15/04/2011

Como ajudar os alunos que sofreram com a tragédia de Realengo?

Por Içami Tiba
Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, ex-aluno, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, zona oeste da cidade, armado com dois revólveres, foi até as classes onde alunos assistiam aulas e, em 9 minutos, deferiu muitos tiros a sangue frio, matou 12 estudantes, feriu outros 12 e cometeu suicídio. Todos os assassinados, 10 garotas e 2 rapazes, tinham entre 13 e 15 anos de idade. 

Mentes humanas não suportam ficar sem respostas às questões que lhes afligem. Assim, todos querem saber quais são os motivos que levaram Wellington a cometer este hediondo crime. Especialistas pesquisam e entrevistam pessoas que se relacionaram com ele nas suas diversas etapas, parentes, seus escritos e pertences, internet, seus interesses, tudo para compreender o que aconteceu.

As hipóteses diagnósticas vão desde personalidade psicopática, doenças mentais, alucinado maluco, vingança tardia de bulliyng sofrido na juventude, explosão cruel de um ensimesmado crônico, fanatismo religioso, cruel perda de controle de uma obstinada mente perturbada ...  Não importa qual ou quais teriam sido as motivações para este crime hediondo, nada muda os seus resultados. Nada justifica um assassinato nem simples, muito menos de tantos jovens. Temos agora que cuidar dos que estão vivos, para que os seus sofrimentos e prejuízos sejam amenizados e suportáveis, evitando as pioras e devolvendo as condições de uma razoável reconstrução.

Como os responsáveis poderão agir com os sofrimentos causados direta e indiretamente por este crime absurdo aos seus filhos e alunos? Como explicar o que não se consegue entender? Como responder que é inexplicável? Como oferecer segurança se todos estão inseguros? Como evitar que este tipo de tragédia aconteça outras vezes?

Para os familiares, parentes, amigos, colegas e conhecidos que conviviam com as vítimas e também para as que foram emocionalmente envolvidas, este crime foi como um imprevisível terremoto, com perdas irreparáveis e danos psicológicos.

Além do tratamento pós-traumático que deve ser oferecido a todas as pessoas necessitadas, algumas das ações que podem ajudar bastante às vítimas vivas são:
  • Ficar com elas e aceitar todas as manifestações espontâneas de sofrimentos que houver, como falas, choros, escritos, desenhos etc. e compartilhar seus sentimentos;
  • Atender suas necessidades de colo, de abraço, de carinho, de alimentação, de ouvir que muitas outras pessoas também estão sofrendo e cada um necessita de cuidados conforme suas particularidades;
  • Acompanhá-las e ajudá-las no que tiverem dificuldades de fazer para retomar a vida cotidiana;
  • Às crianças e jovens que temerem ir às suas próprias escolas, deve-se explicar que devem voltar a frequentar as aulas pois, com certeza, haverá um cuidado maior para que isso não volte a acontecer nem lá nem em outras escolas; que outras vítimas também precisam delas;
  • Pais que precisarem sair para trabalhar: é bom que retornem às suas atividades, mas mantenham contato freqüente com os seus dependentes, seja pelo método que for. O mais fácil é pelo telefone celular;
  • Não podemos aumentar o poder destruidor deste crime permanecendo reféns do medo e presos em casa;
  • Provavelmente todas as pessoas assassinadas gostariam que cada um continuasse a aproveitar melhor a sua vida já que as delas foram ceifadas;
  • Quando o sofrimento for paralisante: procurar ajuda de profissionais especializados;
  • Oferecer, enfim, a garantia afetiva do seu amor para as vítimas vivas, pois dentro de tudo o que se torna incerto, inseguro e temeroso, a certeza que elas devem sentir é a segurança do relacionamento verdadeiro das pessoas que as amam.

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Família de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 26 livros.

13/04/2011

Uma aula de coragem: professores fizeram barricadas para proteger estudantes em Realengo

RIO - Na manhã em que mais de 60 tiros transformaram a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, num cenário de desespero , um herói desarmado fez a diferença: o professor de geografia Luciano Pessanha, de 35 anos, que dava aula na sala ao lado à que Wellington Menezes de Oliveira efetuou os primeiros disparos.
Luciano Pessanha, professor de geografia, fez uma barricada na porta da sala para proteger alunos (Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo)
- Quando ouvi os primeiros tiros, achei que fossem alunos batendo nos armários de ferro. Saí da sala e vi que as crianças corriam desesperadas, umas atropelando as outras. Foi então que entrei na sala e vi o Wellington de pé, carregando os revólveres. Ele parecia muito tranquilo, não falava uma palavra e fazia tudo com calma. Tirou o cinto da mochila e começou a vesti-lo. Havia crianças mortas e ele ainda tinha muita munição - conta o professor.
Luciano correu de volta para a sala em que estava, com cerca de 35 alunos. Com a ajuda dos estudantes, montou uma barricada com mesas e carteiras, e pediu para que os alunos se abaixassem no fundo da sala.
- Wellington chegou a forçar a porta, mas quando viu que seria muito difícil movê-la, desistiu e foi para outra sala. Então, nós ouvimos mais disparos. Quando eles cessaram, pedi que os alunos ficassem abaixados e que não saíssem da sala. Minha preocupação maior era uma aluna deficiente visual que estava conosco, e que não conseguiria fugir sozinha.
Nós ouvimos mais disparos. Quando eles cessaram, pedi que os alunos ficassem abaixados e que não saíssem da sala. Minha preocupação maior era uma aluna deficiente visual que estava conosco, e que não conseguiria fugir sozinha
O professor saiu mais uma vez da sala e trancou a porta, que só podia ser fechada por fora. Wellington se preparava para efetuar novos disparos. Luciano correu para a coordenação da escola, telefonou para a polícia, e foi informado de que o chamado já havia sido feito.
- A atitude que eu tomei foi a que qualquer professor teria tomado. O que fez diferença foi na rapidez do raciocínio. Uma luz me iluminou - diz o professor.
Taís Mendes e Vinícius Lisboa

FONTE GLOBO- ON : http://migre.me/4dkO1

11/04/2011

Diga não as armas!


Resiliência - O poder de ressurgir das cinzas

Todos possuímos uma habilidade natural para superar crises em nossas vidas, por mais arrasadoras que elas possam parecer. A perda de um ente querido, uma doença grave, ou uma brusca mudança dos hábitos são alguns exemplos de adversidades que podem nos devastar. A resiliência consiste em uma força que nos permite usar esses momentos difíceis a nosso favor, e sair deles sem traumas que nos impeçam de viver felizes.
Podemos imaginar este fenômeno comparando-o à física, onde uma material por mais esticado e puxado que seja, sempre volta a sua forma natural, sem sofrer qualquer tipo de deformação. Em nosso caso, podemos nos tornar ainda mais resistentes.

Vamos: SME-PCRJ - Ressurgir das cinzas
A partir da próxima terça-feira, funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) vão limpar a escola e o Conservando-escola vai começar a reformar a escola. Na quarta, a secretaria vai parar as suas atividades por duas horas para receber sugestões de outras instituições de ensino sobre a forma como a escola Tasso da Silveira será reconstruída. No dia 18, as crianças vão ao local para participar de uma oficina de arte para construir um mosaico no colégio.
'Não há nada mais sagrado do que ser escola. Nós vamos manter esse colégio e transformá-lo. E as crianças precisam continuar estudando no lugar em que sempre foram felizes. Essa escola vai ser uma Fênix, que vai ressurgir das cinzas - disse a secretária Claudia Costin


Fonte:http://www.rioeduca.net/blog.php


Solidariedade


Carta



Caros professores,
Ficamos todos profundamente abalados com a terrível tragédia que se abateu sobre a escola Tasso da Silveira. Estamos todos de luto. Cada um de nós foi atingido por esse acontecimento. As marcas em nossos corações permanecerão por muito tempo, ou mesmo para sempre. É muito importante, neste momento, que toda e cada comunidade escolar se reúna, se expresse, reflita sobre o acontecido e, unida, proponha uma forma de enfrentamento e superação do ocorrido. Precisamos reinventar o espaço escolar.
A comunidade escolar precisa sentir-se amparada, acolhida e poder se expressar, como forma de dar vazão a toda sua angústia e seus medos, nas mais variadas formas. Não adianta tentar mascarar a realidade, pois ela está aí, dura e doída. Cabe a nós, educadores, tentar transformar esse momento de luto, de dor, numa possibilidade de superação, de proposta de discussão de valores, na possibilidade de construção de uma sociedade mais solidária, mais ética, mais preocupada com o ser do que com o ter e que saiba conviver de forma harmônica com todas as diversidades que o espaço escolar abarca.
Para isso, não há uma única ou melhor forma. Cada escola encontrará sua própria maneira de se reinventar. O importante é que todos se sintam acolhidos e confortáveis para poderem se abrir, falar de seus medos e suas angústias e, a partir dessa discussão, a escola saia fortalecida e mais unida.
Acreditamos que o Centro de Estudos do próximo dia 13 seja o espaço privilegiado para a reflexão desse novo olhar sobre o espaço escolar. Gostaríamos que cada escola encaminhasse a consolidação de suas discussões para sua Coordenadoria, de maneira que possamos juntos delinear melhores ações.

                                                                              Um abraço,

Carta da Sra Secretária Claudia Costin

03/04/2011

Paulo Freire

“É preciso e até urgente que a escola vá se tornando em espaço escolar acolhedor e multiplicador de certos gestos democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor,mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância o do acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade”.(Paulo Freire,Professora sim, tia não, p.91).